Foi deflagrada nesta
quinta-feira (04/02), a Operação Alcateia, fruto de dez meses de investigações,
a operação visa combater a facção criminosa denominada “Sindicato do RN”, que
atua dentro e fora dos presídios potiguares.
Foram expedidos 39
mandados de prisão e 20 mandados de busca e apreensão pelos Juízes de Direito
das Varas Criminais das Comarcas de Apodi, Caicó e São Gonçalo do Amarante.
Dos trinta e nove
mandados de prisão, 27 dizem respeito a investigados já presos e que de dentro
dos presídios atuam emitindo ordens para a prática dos mais diversos ilícitos
em várias Comarcas do Estado. Líderes e braços operacionais dessa facção foram
identificados e são investigados por crimes de organização criminosa, homicídios,
roubos, tráfico ilícito de entorpecentes, dentre outros.
A investigação tem
origem a partir de informes coletados nas Operações Alcatraz e Citronela,
deflagradas respectivamente em dezembro de 2014 e setembro de 2015,
observando-se que as atividades do “Sindicato do RN” avançaram ao longo do ano
de 2015, mesmo com isolamento de alguns de seus líderes no sistema
penitenciário federal, ocorrendo uma sucessão de lideranças.
Dentre outros, tiveram
prisões decretadas as seguintes lideranças: Francisco das Chagas Rosa da Silva,
conhecido como “Chaguinha”, um dos fundadores e membro da Linha Final; Jamerson
César da Silva, conhecido como “Passarinho” ou “Voador”, membro da Linha Final;
Gilmar da Cruz Silva, conhecido como “Curau”, membro do Conselho; Evan Ferreira
Machado, conhecido como “Gordo Evan”, atacadista do tráfico de drogas; Wiliam
Ferreira da Cunha, conhecido como “Oião” ou “Brahma”, membro do Conselho; Bruno
Pierre Araujo Falcão da Silva, conhecido como “Pierre” ou “Wolverine”, membro
do Conselho; Tarcísio Oliveira da Silva, conhecido como “Macaco” ou “Gorila”,
membro do Conselho; João Maria Silva de Oliveira, conhecido como “Seba” ou
“Cego” ou ainda “Pirata“, membro do Conselho; Estevam Sales da Silva, conhecido
como “My Friend”, membro do Conselho; Gabriel Matheus Costa Torres, conhecido
como “Lacoste” ou “Jacaré”, membro do Conselho; Gabriel Morais, conhecido como
“Pesadão”, liderança em Caicó/RN; Orlando Vasco dos Santos, membro do Conselho;
Neemias de Lima Figueiredo, conhecido como “Miau”, membro do Conselho; e
Severino dos Ramos Feliciano Simão, conhecido como “Tirinete”, membro do
Conselho.
Nesta quinta-feira,
cinco pessoas foram presas em flagrantes por crimes de tráfico ilícito de
entorpecentes e porte ilegal de arma de fogo. A Justiça determinou ainda o
bloqueio de 79 contas bancárias usadas pela facção, pertencentes a titulares
que estão sendo investigados quanto à colaboração com a organização criminosa.
Fundação e domínio
territorial
Do estudo das peças
investigativas que abordam o histórico do “Sindicato do RN”, ou “Sindicato do
Crime” ou ainda “SDC” observa-se que a sua fundação se deu no dia 27/03/2013
por dissidência de detentos que tiveram participação nas atividades do Primeiro
Comando da Capital (PCC) no Rio Grande do Norte, os quais compreenderam a
sistemática de funcionamento da organização e romperam com a mesma por
discordarem do grande rigor das regras do estatuto do grupo, da forma de
tratamento com inadimplentes com a contribuição mensal e do valor desta, além
da insatisfação com a obrigação de prestar contas a detentos de outros Estados.
A organização paulista
acabou compartilhando a expertise de métodos de atuação criminosa, capacitando
os presos potiguares quanto ao funcionamento desse tipo de organização, para
assim atuarem de forma mais eficiente, os quais ganharam autonomia e buscaram
formar uma organização autônoma, inicialmente rudimentar, mas que, subestimada
pelo Estado, foi progressivamente se aperfeiçoando, tendo como metas o controle
do interior dos presídios e de territórios fora deles para o tráfico, o que
denominam “quebradas”.
A relação com a
Operação Citronela observa-se em razão de histórico de sangrenta disputa pelo
monopólio do comércio do tráfico de drogas na região da Ponte de Igapó, tendo ocorrido
violenta competição entre o grupo do traficante Joel Rodrigues da Silva, que
detinha o domínio da comunidade do “Mosquito” com traficantes que atuavam na
comunidade “Beira Rio”, zona norte de Natal e na “Baixa da Coruja”, no Jardim
Lola, em São Gonçalo do Amarante, motivo por que se observou a necessidade de
investigar também esses outros traficantes.
A partir do momento em
que Joel Rodrigues da Silva conseguiu avançar e se impor na comunidade “Beira
Rio” houve uma reação dos primos Diego da Silva Alves, conhecido como “Diego
Branco” e Francisco das Chagas Rosa da Silva, conhecido como “Chaguinha”, que
detinham e ainda detém o monopólio do tráfico na “Baixa da Coruja”, em defesa
desse território e de outros em São Gonçalo do Amarante, sendo ambos fundadores
do “Sindicato do RN”.
Na data de hoje foi
preso em São Gonçalo do Amarante o investigado William Carlos Souza de
Oliveira, conhecido como “Lobo”, o qual, segundo as investigações, é apontado
como autor de diversos homicídios a serviço da facção, dentre essas mortes está
a de Anxo Anton Valiño Gonzalez, assassinado no dia 06 de agosto de 2015, por
ter se estabelecido no Jardim Lola, em razão da mera suspeita de que o mesmo
estaria articulando traficar na localidade.
Desestabilização dos
presídios e acordo das facções
Foi constatado ainda
que os membros do “Sindicato do RN” buscaram incessantemente desestabilizar o
interior das grandes unidades prisionais para conseguir o fim das denominadas
“trancas”, ou seja, da prisão propriamente dita em unidade celular separada no
interior dos pavilhões.
Paulatinamente, os
membros da organização aproveitaram-se do vácuo causado pela ação ineficiente
do Estado, foram ocupando espaços e promovendo o domínio das ações do portão do
pavilhão para dentro, consumando o fim das “trancas” com reiteradas depredações
das unidades, sobretudo entre os meses de março a agosto de 2015, arrancando as
grades e impedindo o acesso regular dos agentes penitenciários.
Como os agentes não
entravam rotineiramente nos pavilhões e há muito tempo já se valiam de “presos
de confiança” para exercer a função de “chaveiros”, estes foram recrutados e
passaram a seguir ordens das facções. O passo seguinte foi arrancar as grades
de cada cela, o que terminou pelo domínio de toda a área dos pavilhões pelos
próprios presos, cujo ingresso passou a depender de intervenções táticas do GOE
ou do BPCHOQUE.
Esse comando do
interior das unidades impede o cumprimento da Lei de Execuções Penais sobretudo
no que se refere a regras básicas de disciplina e à separação dos detentos,
facilita a escavação de túneis, o uso de celulares e o recrutamento de novos
integrantes para a facção, a partir dos presos que não inicialmente não queiram
integrar qualquer dos grupos e procuram posição de neutralidade (denominados de
“massa”).
Em julho e em agosto de
2015 o “Sindicato do RN” atingiu quase toda a meta de derrubar as “trancas”,
quando destruíram as grades dos Presídios de Nova Cruz e Caicó, perdendo o
Estado o domínio do interior desses estabelecimentos.
Observou-se da pesquisa
investigativa ainda que entre março e junho de 2015 houve um acordo entre as
facções, que se uniram em torno de uma pauta pública que foi o afastamento da
então Diretora do Presídio de Alcaçuz, mas cuja pauta real era avançar para
destruir mais “trancas” e não se submeter a qualquer ordem ou disciplina,
ampliando-se o controle das unidades.
Esse acordo além de
viabilizar o avanço da destruição das “trancas”, resultou nos ataques a ônibus
na região metropolitana de Natal no dia 16 de março de 2015, o que serviu como
demonstração de força e buscava inibir a ação do Estado nas penitenciárias, aliada
à estratégia de oferecer representações a órgãos competentes por supostas de
violação de direitos por qualquer ação disciplinar mais firme por parte dos
agentes penitenciários.
O controle das áreas
internas se consolidou progressivamente, porém a frágil paz entre as facções
durou até o mês de junho do mesmo ano, quando foi assassinado o detento
Alexandre Teodósio, conhecido como “Pelelê”, que era ligado ao PCC, gerando-se
uma sequência de atos de violência, com várias outras mortes, dentro e fora das
unidades. Algumas dessas mortes foram decididas coletivamente pelo denominado
“Conselho” da facção.
Outro órgão da
organização é a chamada “Linha Final”, que são presos fundadores ou com poder
de mando, os quais procuram agir de forma extremamente discreta, sendo até
mesmo desconhecidos da condição de líderes muitas vezes pelos próprios agentes
penitenciários, instrumentalizando outros presos para transmitir ordens.
Percebeu-se também que
o grupo mantém contatos com membros de facções com divergências com o PCC, como
a “Al Qaeda” (Paraíba) e o Comando Vermelho (Rio de Janeiro).
Captura de atacadista
do tráfico, fugas recentes e prisões decretadas
Em atuação integrada
com o Ministério Público de São Paulo foi preso no dia 26 de novembro de 2015,
na cidade de Ubatuba/SP, o foragido da Justiça do Rio Grande do Norte Evan
Ferreira Machado, conhecido como “Gordo Evan”, que era fornecedor de drogas
para a facção e considerando um dos maiores atacadistas do mercado ilícito no
Estado.
No dia 21 de janeiro de
2016 fugiram de Alcaçuz duas das principais lideranças da facção, que seguem
foragidos e passaram a atuar fortemente em crimes de roubo, são eles Gilmar da
Cruz Silva, conhecido como “Curau”, que tem atuação no Agreste do Estado e
Francisco das Chagas Rosa da Silva, o “Chaguinha”, que comanda o tráfico de
drogas nas comunidades Jardim Lola e Padre João Maria, em São Gonçalo do
Amarante.
Fonte: www.mprn.mp.br