(Foto: Fred Veras/Sebrae)
Apesar de não ter um clima temperado, algumas áreas do
semiárido nordestino apresentam um potencial para a viticultura. Parte delas já
está bem consolidada, como a região do Vale do São Francisco (situado entre os
sertões da Bahia e Pernambuco), que é um dos mais importantes polos
vitivinícolas do Nordeste, responsável por mais de 90% da exportação de uva de
mesa. Novas áreas, porém, despontam como promessa nesse tipo de cultivo, como é
o caso do Oeste Potiguar. Por isso, o Sebrae no Rio Grande do Norte está
estimulando agricultores familiares a apostarem na plantação da fruta. Núcleos
já instalados em Apodi e Mossoró – e outros em implantação em Pureza e cidades próximas a Natal – comprovam a viabilidade da
viticultura no estado.
Pesquisa da Universidade
Federal Rural do Semiárido (Ufersa) ratificam que o clima e o solo dessas
regiões têm condições propícias ao desenvolvimento da variedade popularmente
conhecida como uva Isabel precoce, que ideal para o consumo in natura e, principalmente,
para produção de sucos integrais. Os pesquisadores também identificaram que a
uva apresenta qualidade bem superior. “A uva que produzimos em nossa fazenda
experimental, em Mossoró, obteve 24° Brix. O mínimo, no caso de uvas especiais,
fica na faixa entre 16 ° a 18°. Esse índice mede o teor de doçura e de
qualidade da fruta”, explica o pesquisador da Ufersa Django Dantas, que também
é consultor do Sebrae.
Para estimular o cultivo,
o Sebrae decidiu instalar experiências piloto em assentamentos, visando
fornecer novas fontes de renda para agricultores familiares das regiões Oeste,
Grande Natal e Mato Grande. Ao todo, são 14 produtores envolvidos no cultivo da
espécie, sendo cinco em Mossoró,
nove em Apodi e os demais nas outras áreas. As famílias capacitadas para o
plantio vêm recebendo consultorias do Sebrae desde o agosto do ano passado e
devem contar a assistência até o próximo ano.
“Estamos aplicando o que
foi identificado nas pesquisas nesses assentamentos. Todas as mudas que estão
sendo fornecidas são multiplicadas através da técnica de enxerto e mantidas em
viveiros da Ufersa e no campus de Apodi do Instituto Federal de Ciência,
Educação e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)”, diz o gestor do projeto de
Fruticultura do Sebrae-RN, Franco Marinho.
Além da qualidade da uva
produzida em solo potiguar, as condições climáticas também se apresentam como
mais uma vantagem para o cultivo na região Oeste, já que produzem duas safras
por ano. Enquanto os produtores do sul do país colhem apenas uma safra por ano,
devido ao período de inverno, quando o parreiral não produz. O gestor também
explica os benefícios para quem deseja apostar na atividade. “A vantagem do
cultivo da uva é a rentabilidade, pois um hectare plantado rende em média de R$
80 a 100
mil por ano”.
Além da Ufersa, o IFRN integrou a parceria para implementar a
iniciativa. “O instituto entrou no projeto na articulação dos produtores em
Apodi e com a produção das mudas”, explica o professor do IFRN, Renato Alencar.
Assentamentos
A experiência animou os agricultores instalados nos assentamentos. É o caso de
Sônia Silva, da Agrovila Paulo Freire, instalada na zona rural de Mossoró. Com
um quarto de hectare plantado, a produtora já planeja expandir a plantação para
um hectare até o final do ano. “A uva está vindo como uma inovação e a gente
acredita muito, pois até agora de 100 mudas só perdemos três”, comemora a
agricultora.
Sônia Silva diz que plantio de uva é alternativa para incrementar a renda (Foto: Fred Veras/Sebrae)
Além dela, outros cinco
produtores trabalham no lote de Sônia Silva, onde está sendo cultivada a uva da
espécie Isabel Precoce. Com a consultoria e cursos oferecidos pelo Sebrae, o
pessoal da agrovila está aprendendo o manejo do cultivo para que, depois, cada
um, possa multiplicar a ideia entre os demais integrantes do assentamento.
O agricultor Edson Rocha
é um dos que ajudam nos cuidados com o parreiral e que pretende aplicar os
conhecimentos em seu lote. “Hoje, cultivo mamona, mas, aqui, percebi que o plantio
de uva é possível e já penso em plantar também”, afirma.
Com a primeira colheita
prevista para janeiro de 2017, os 22 agricultores familiares assistidos pelo
Sebrae no Rio Grande do Norte recebem visitas semanais onde são ensinados o
passo a passo de como conduzir o plantio. “Estamos orientando os produtores com
a tecnologia de produção, e também no tocante a comercialização e organização.
O próximo passo do projeto é a unidade extratora de suco, para produção do suco
da uva”, aponta Franco Marinho.
Fonte: g1.globo.com/rn