Hilderline Oliveira trabalhou 15 anos no sistema penitenciário
Durante mais de 15 anos atuando como assistente social e
realizando pesquisas no sistema prisional, a professora doutora Hilderline
Câmara de Oliveira se deparou com uma sociedade organizada, com leis, sistema
econômico formado e até dialetos próprios. Essa organização social é cercada de
muros e tem vigilância 24h por dia. São as unidades prisionais. O resultado da
vivência e da pesquisa é o livro “A Linguagem do Cotidiano Prisional – Enigmas
e Significados”.
Hilderlane Câmara já trabalhou na assistência social da
Penitenciária Estadual de Alcaçuz, do Presídio Provisório Raimundo Nonato
Fernandes, na Casa Albergue, e estagiou na antiga Penitenciária João Chaves.
Mas foi no Presídio Estadual de Parnamirim (PEP), local em que ela atuou por
mais de um ano, de onde a professora retirou sua tese de doutorado, que
culminou no livro. Neste período, Hilderline Câmara conviveu com vários
presidiários e por diversas vezes os entrevistou para saber sobre convívio
dentro do presídio e as relações interpessoais, bem como a organização da sociedade
construída entre os muros do PEP. Sem estrutura adequada, a população desta
sociedade se vira como pode para sobreviver, dentro das leis criadas por ela
própria.
As casas, como os presidiários chamam suas celas, têm decoração feita por eles, com cartazes colados e escrituras que indicam pensamentos dos presos que lá residem. Hilderlane Oliveira disse que esses são artifícios para encobrir a sujeira nas paredes. Entre os membros desta sociedade, o mercado funciona principalmente na base do escambo, o sistema de trocas. A professora conta que é comum dentro das unidades os detentos oferecerem serviços ou até objetos pessoais em troca de utensílios dos colegas que lhes forem úteis. “Um faz uma faxina em troca de material de limpeza que o outro tem sobrando. Mantem relações sexuais por objetos de higiene”, exemplificou. Compra e venda de drogas também acontecem. Mas o meio de transportar os entorpecentes pelos presos é incomum. Como se fazia com os pombos-correio, os encarcerados fazem com gatos. Os presidiários passavam a alimentar os animais diariamente, acostumando a, sempre que chamarem pelos gatos, os bichanos irem em busca de comida. Os presos amarram drogas no pescoço dos felinos, que vão de uma cela para outra em à procura de refeição, mas acabam ajudando no tráfico. Outro serviço informal que movimenta o comércio penitenciário é o de confecção de tatuagens. Com máquinas artesanais, construídas dentro das próprias unidades, os internos usam tinta de tecido para desenhar na pele símbolos que os relacionam crimes que cometeram e pagam pela arte e posteriormente pelos retoques.
Fonte: http://tribunadonorte.com.br