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segunda-feira, 12 de março de 2012

Chineses querem importar 300 mil jumentos do RN e estados nordestinos

  (Fábio Cortez/DN/D.A.Press)

"É verdade, meu senhor essa estória do sertão. Padre Vieira falou que o jumento é nosso irmão". O trecho inicial do poema de Luiz Gonzaga e José Clementino aviva a importância de um animal que faz parte da história e do desenvolvimento econômico do Rio Grande do Norte. Popularmente conhecido como jegue, o animal vem se tornando assunto em todo o Brasil. Em um protocolo de intenções assinado entre a China e o RN, a exportação do asinino é um dos interesses almejados pelo mercado asiático, que já importa os animais da Índia e da Zâmbia. O protocolo tenciona fazer com que o RN e outros estados nordestinos exportem cerca de 300 mil jegues por ano para o gigante.

De acordo com o secretário estadual de Agricultura e Pesca, Betinho Rosado, o interesse chinês se deve à elevada concentração do espécime em terras nordestinas, o que pode ser uma boa alternativa para o mercado potiguar expandir para um novo segmento. "Além de movimentar a economia local, a iniciativa ainda pode resolver o problema de excesso de oferta de jegues na região", afirma o secretário. Atualmente, são contabilizados cerca de 55 mil jegues em todo o estado.

Segundo o titular da Sape, com as facilidades de financiamento, houve um crescimento muito grande do uso de motos para o transporte local e os jegues estão perdendo espaço no uso diário das pessoas do interior do estado. Foi em junho de 2011 que o grupo de empresários chineses percorreu o Nordeste, desde a Bahia até o Rio Grande do Norte, conversando com fazendeiros e políticos.

"Temo que no nosso estado não tenhamos empresários interessados em investir no segmento. Afinal, é um mercado novo, e tudo o que é desconhecido assusta um pouco", frisa Betinho. Na China, os populares jegues são utilizados na indústria de alimentos e na de cosméticos. Por ano, os chineses sacrificam 1,5 milhão de jumentos. O gigante asiático está com o interesse de ampliar esse número para dois milhões. O processo envolve tecnologia de ponta, com melhoria genética, cuidados na produção de alimentos específicos e assistência técnica.

Na opinião do secretário adjunto de Agricultura, José Simplício de Holanda, a exportação dos jegues resolveria um problema local. Em regiões do Alto Oeste e Seridó, o animal é altamente rejeitado pelos ex-proprietários que abandonam os animais nas estradas. Reproduzindo-se, os jegues ocupam rodovias e geram acidentes graves, risco que, para Holanda, seriam reduzidos com a adoção do programa de garantia de compra dos animais a preços de mercado, o Projegue.

"É muito difícil lidar com essa situação. Diria que é incontrolável. Por isso acredito no potencial dessas negociações. Asnos só servem para causar acidentes nas estradas. Quem já possuiu um o substituiu por motos", diz Holanda. Simplício afirma que a criação do jumento é simples, uma vez que ele "se cria sozinho" e facilmente se reproduz (gestação de 11 meses). Mas, por enquanto, o projeto ainda não teve maiores avanços, mesmo com boas expectativas por parte do Governo do Estado.