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segunda-feira, 10 de junho de 2013

O bê-á-bá inventado e interpretado nos presídios

Hilderline Oliveira trabalhou 15 anos no sistema penitenciário 
Hilderline Oliveira trabalhou 15 anos no sistema penitenciário

Durante mais de 15 anos atuando como assistente social e realizando pesquisas no sistema prisional, a professora doutora Hilderline Câmara de Oliveira se deparou com uma sociedade organizada, com leis, sistema econômico formado e até dialetos próprios. Essa organização social é cercada de muros e tem vigilância 24h por dia. São as unidades prisionais. O resultado da vivência e da pesquisa é o livro “A Linguagem do Cotidiano Prisional – Enigmas e Significados”.

Hilderlane Câmara  já trabalhou na assistência social da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, do Presídio Provisório  Raimundo Nonato Fernandes, na Casa Albergue, e estagiou na antiga Penitenciária João Chaves. Mas foi no Presídio Estadual de Parnamirim (PEP), local em que ela atuou por mais de um ano, de onde a professora retirou  sua tese de doutorado, que culminou no livro. Neste período, Hilderline Câmara conviveu com vários presidiários e por diversas vezes os entrevistou para saber sobre convívio dentro do presídio e as relações interpessoais, bem como a organização da sociedade construída entre os muros do PEP. Sem estrutura adequada, a população desta sociedade se vira como pode para sobreviver, dentro das leis criadas por ela própria.


As casas, como os presidiários chamam suas celas, têm decoração feita por eles, com cartazes colados e escrituras que indicam pensamentos dos presos que lá residem. Hilderlane Oliveira disse que esses são artifícios para encobrir a sujeira nas paredes. Entre os membros desta sociedade, o mercado funciona principalmente na base do escambo, o sistema de trocas. A professora conta que é comum dentro das unidades os detentos oferecerem serviços ou até objetos pessoais em troca de utensílios dos colegas que lhes forem úteis. “Um faz uma faxina em troca de material de limpeza que o outro tem sobrando. Mantem relações sexuais por objetos de higiene”, exemplificou. Compra e venda de drogas também acontecem. Mas o meio de transportar os entorpecentes pelos presos é incomum. Como se fazia com os pombos-correio, os encarcerados fazem com gatos. Os presidiários passavam a alimentar os animais diariamente, acostumando a, sempre que chamarem pelos gatos, os bichanos irem em busca de comida. Os presos amarram drogas no pescoço dos felinos, que vão de uma cela para outra em à procura de refeição, mas acabam ajudando no tráfico. Outro serviço informal que movimenta o comércio penitenciário é o de confecção de tatuagens. Com máquinas artesanais, construídas dentro das próprias unidades, os internos usam tinta de tecido para desenhar na pele símbolos que os relacionam crimes que cometeram e pagam pela arte e posteriormente pelos retoques.