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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Especialistas mostram como tornar-se um milionário juntando R$ 10 por dia .

 

O sonho da tranquilidade financeira ronda o imaginário de boa parte da população do país, de gente que nunca perde a oportunidade de fazer uma fezinha. O prêmio de R$ 177,6 milhões da Mega-Sena da Virada saiu para cinco ganhadores, entre eles, um que fez a aposta no Distrito Federal e deixou muitos com água na boca. Mas, no Brasil do século 21, tornar-se milionário sem depender da sorte é possível. A economia atingiu a estabilidade e as oportunidades para empreender e aplicar dinheiro são mais variadas e promissoras. Embora ainda existam entraves — tais como renda insuficiente, endividamento das famílias, ausência do hábito de poupar e inflação que carece de controle—, ficar rico já não é uma miragem distante. A pedido do Correio, especialistas deram dicas para formar um pé-de-meia para o futuro e, quem sabe, até juntar o primeiro milhão de reais.

O bom momento do Brasil está na boca do mundo. Em reportagem publicada em 2011, a revista norte-americana Forbes afirma que o país criou 19 milionários por dia nos últimos quatro anos, embalado pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a soma das riquezas de um país. Outra estimativa, feita pelas consultorias Capgemini e Merril Lynch, mostra que, em 2010, a cada 24 horas, 23 pessoas se tornaram milionárias em terras tupiniquins. A euforia pode dar a impressão de que o milhão ficou ao alcance de todos graças à prosperidade econômica, mas não é bem assim.

O cidadão comum de classe média que decidisse acumular R$ 1 milhão da forma mais simples e direta possível — poupando — teria uma tarefa árdua pela frente e ainda precisaria cultivar uma disciplina ferrenha. Segundo cálculo do educador financeiro Mauro Calil, que também é administrador de empresas e investidor da Bolsa de Valores, para ganhar o equivalente à quantia (levando em conta a correção monetária), seria necessário guardar R$ 300 por mês — ao longo de nada menos do que 30 anos.

Calil sugere que o pretendente a milionário separe R$ 10 por dia, para que fique mais fácil reservar o montante mensal. E sugere formas de tornar mais rápida a escalada até R$ 1 milhão. “À medida que melhora de vida, tem aumento de salário e renda, a pessoa pode passar a colocar R$ 12, R$ 15, R$ 20 diários”, aconselha. Mas ele reconhece que não é uma ginástica financeira fácil para os brasileiros. “Para poupar R$ 300 por mês, seria necessário ter no mínimo R$ 1.000 em renda líquida, e essa não é a realidade de todos”, comenta.


Para quem possui uma margem para aplicar, o educador financeiro defende o investimento na Bolsa. Trata-se da aplicação de renda variável, que apura mais do que a caderneta de poupança e os fundos de renda fixa. Enquanto a primeira proporciona juros mensais de 0,5% e os demais de 0,75%, a opção sugerida por Mauro Calil chega a pagar 0,95% ao mês. Portanto, tem potencial para encurtar o caminho até o resultado financeiro desejado. Mas, ao contrário das outras duas, pode acarretar perda de dinheiro.

Lucro exponencial

Apesar de a Bolsa de Valores não ser um investimento de risco zero, Calil afirma que ela é uma boa pedida. “Não é preciso ser investidor profissional. Basta conhecer o mecanismo e usá-lo em seu favor. Você pode muito bem ser conservador dentro da Bolsa”, diz.

A orientação do educador financeiro é investir em uma carteira de empresas que crescem e têm boas perscpectivas. É importante verificar se essas firmas adotam boas práticas de governança corporativa. E, por fim, é preciso ter paciência. “Os juros da renda variável são exponenciais, não lineares. No começo, você não vê o rendimento. O investidor deve pensar em um horizonte de pelo menos oito anos”, recomenda. Na visão de Calil, o grande inimigo do enriquecimento, hoje, é o endividamento das famílias. “O ideal seria que as pessoas deixassem de pagar juros e passassem a recebê-los”, opina.

O economista Miguel Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), atribui a situação de dívida das famílias ao fato de o brasileiro não ter o costume de poupar. “Há uma mentalidade imediatatista, de que, se você não comprar hoje, amanhã já não consegue. Isso foi consolidado por anos de inflação alta e carência de acesso a bens como televisão, automóvel, telefonia celular. As pessoas precisam entender que é importante se preocupar com o futuro, formar um patrimônio, seja para juntar R$ 1 milhão ou qual for o objetivo”, ensina.

Oliveira ressalta que o país melhorou, mas não fornece as condições ideais para a poupança. “O Brasil vinha crescendo, mas 2011 foi mais difícil. A inflação foi alta e isso corrói a renda”, analisa. Para ele, atualmente os meios mais rápidos para se tornar milionário no país estão no empreendedorismo e no mercado imobiliário.

Guilherme Bismarck, 28 anos, escolheu empreender. O jovem é um dos três proprietários de quatro lojas de uma conhecida franquia de frozen yogurt, todas em pontos de intensa circulação de clientes, situados em conhecidos shoppings do DF. “Com a valorização das lojas e algumas aplicações no banco, estou perto de R$ 1 milhão”, afirma ele, que não entra em detalhes sobre valores.

Contido, toma cuidado para não esbanjar o lucro. Hoje, três anos após a abertura do negócio, continua seguindo a mesma lógica do início: guardar e reinvestir. “Meu pai sempre dizia que a gente não fica rico com dinheiro que ganha, e sim com dinheiro que poupa. Me formei em publicidade e minha primeira empresa foi uma produtora, dentro da minha casa. Naquela época, já tinha a mentalidade de guardar R$ 500 aqui, R$ 1 mil ali”, conta.

Guilherme — que ainda não comprou carrão, nem imóvel — pretende continuar aplicando na expansão dos negócios e trabalhando. Abriu uma gráfica com o irmão e tem um novo projeto com os sócios na franquia para este ano. “Já vi muita gente abrindo loja e sentando na cadeira. Nunca pensei em me acomodar. Quero fazer o dinheiro girar por mais uns quatro ou cinco anos e só então começar a imobilizar o capital”, revela.

"Meu pai sempre dizia que a gente não fica rico com dinheiro que ganha, e sim com dinheiro que poupa"

Guilherme Bismarck, 28 anos, empresário

 "O ideal seria que as pessoas deixassem de pagar juros e passassem
a recebê-los"

Mauro Calil, educador financeiro, administrador de empresas e investidor

Fonte: Correio Braziliense (via http://www.dnonline.com.br/ ).