Hoje, no Brasil, se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, uma data que marca a grande influência negra num país que abriga muitas raças. Porém, essa consciência sobre a própria cor da pele dá lugar ao racismo e ao preconceito. Uma realidade que vem se modificando nas comunidades quilombolas espalhadas por vários cantos do País.
Um exemplo de consciência negra pode ser comprovado na Comunidade Quilombola do Sítio Jatobá, zona rural do município de Patu, Médio-Oeste do Rio Grande do Norte, onde mais de 80 negros convivem em perfeita harmonia em regime comunitário, dando um verdadeiro exemplo de vida em sociedade.
Segundo a presidente da Associação dos Moradores da Comunidade Quilombola do Jatobá, Sandra da Silva, todas as famílias que residem no sítio mantém um relacionamento harmonioso. "Aqui todo mundo se ajuda e se alguém tem uma dificuldade, todos ajudam e o trabalho também é realizado de forma comunitária", explicou.
Sandra ressalta que a Comunidade Quilombola do Jatobá recebe incentivo de ONGs, da Prefeitura de Patu e do Incra. Devido a organização das famílias quilombolas, a Comunidade do Jatobá será a primeira no Estado a receber título de terra destinado a comunidade negra. "A entrega destes títulos de terra aos moradores acontecerá em breve", frisou Sandra.
TRABALHO COMUNITÁRIO - As famílias quilombolas do Jatobá sobrevivem basicamente da agricultura e recentemente foi implantado o projeto Horta Comunitária, onde um grupo trabalha no cultivo de verduras e hortaliças. Parte da produção é destinada ao consumo e a outra parte é comercializada em feiras.
Sandra explica que toda semana um grupo de agricultores da comunidade quilombola do Jatobá participa de uma feira de produtos orgânicos, realizada no Centro de Patu. Na lista de produtos cultivados pelos quilombolas estão: tomate, cebolinha, coentro, alface, pimentão, pimenta de cheiro, beterraba, cenoura, entre outros. O projeto da horta da comunidade quilombola de Jatobá recebe apoio técnico de um engenheiro agrônomo da cidade de Messias Targino.
Além da horta, a associação da comunidade também desenvolve um programa voltado para a geração de emprego e renda atualmente investindo na produção de polpa de fruta para comércio. Sandra explica que o processo de produção de polpa já possui registro e precisa apenas de uma liberação para ser destinada à merenda escolar nas escolas da região. "Somos bem assistidos aqui e somos todos felizes", acrescentou.
Primeira família chegou à comunidade há seis décadas
Apesar de receber o reconhecimento como uma comunidade negra há poucos anos, a primeira família quilombola chegou ao Sítio Jatobá há seis décadas. Segundo a matriarca da família Aquino Silva, Ducília de Aquino, 81 anos, quando veio morar na comunidade tinha apenas 12 anos de idade. "Morávamos na fronteira com a Paraíba e meu pai nos trouxe pra cá onde moro até hoje", lembrou.
O pai de Ducília, João Luís de Aquino, foi o fundador da comunidade e a casa onde ele criou os filhos existe até hoje e é habitada pelos filhos, netos e bisnetos. Ducília é considerada uma líder da comunidade, teve 17 filhos, mas somente quatro estão vivos e atuou como parteira durante muitos anos. Hoje, passa a maioria do tempo observando o dia a dia dos filhos, netos e bisnetos. Mas, ressalta que quando jovem gostava muito de dançar.
As famílias de negros que residem no Jatobá seguem a religião católica e têm como santo padroeiro São Benedito. "Temos uma capelinha aqui onde acontecem as missas uma vez por mês com o padre de Patu", acrescentou Ducília.
Anualmente todas as famílias da comunidade quilombola do Jatobá se reúnem para celebrar o Natal, e neste ano Sandra relatou hoje, para comemorar o Dia da Consciência Negra também haverá uma comemoração. "Vamos fazer uma comemoração mais simples, mas a data não passará em branco", prometeu Sandra.